Guia das Bancas Organizadoras de Concursos: Jogue o Jogo do seu Adversário

Estudar sem conhecer o perfil da sua banca é como lutar no escuro. Cada uma tem suas preferências, seu nível de dificuldade e suas “pegadinhas” clássicas. Conheça as principais e saia na frente da concorrência.

1. O Perfil da Cespe/Cebraspe: A Estrategista

A Cespe (hoje chamada Cebraspe) é provavelmente a banca mais temida e, ao mesmo tempo, uma das mais respeitadas. Ela é conhecida por seu método único e pela inteligência na elaboração das questões.

  • Estilo Principal da Cebraspe: O famoso formato “Certo ou Errado”, onde cada resposta errada anula uma resposta certa. O Cebraspe é mestre em criar assertivas que estão “quase” certas. Uma única palavra (como “apenas”, “sempre”, “nunca”, “todos”, “exceto”) pode tornar uma frase inteira errada. Ao estudar, preste atenção obsessiva a esses detalhes na lei, na jurisprudência e na doutrina. “Exceto”, “salvo”, “apenas”, “somente”. Elas mudam todo o sentido da frase e exigem atenção redobrada. Separe a Assertiva em Blocos: Uma frase longa do Cebraspe pode ter 3 ou 4 ideias. Se uma única ideia estiver errada, a assertiva inteira está ERRADA. Verifique cada parte da afirmação.
  • Dicas para a prova do Cebraspe Certo e Errado:
  • 1) O maior erro é sentir que você precisa responder a todas as 120 questões. Deixar uma questão em branco não é perder um ponto; é se proteger de perder dois (o ponto que você erraria + o ponto da certa que seria anulada). Encare o “branco” como uma jogada estratégica de defesa.
  • 2) A prova não vale 120 pontos. Seu objetivo é ter o maior número de pontos líquidos (total de certas – total de erradas). É melhor ter 80 certas e 10 erradas (70 pontos líquidos) do que 90 certas e 25 erradas (65 pontos líquidos).
  • 3) Não Existe “Chute”; Existe Risco Calculado: Você não vai “chutar” aleatoriamente. Você vai analisar seu nível de certeza e decidir se vale a pena arriscar. A preparação te dará a base para esse cálculo.
  • 4) Faça simulados completos cronometrados, aplicando a sua estratégia de prova. Pratique a decisão de deixar questões em branco sob pressão. Ao final, calcule sua pontuação líquida.
  • 5) Leia toda a prova uma primeira vez e marque apenas as questões que você tem 100% de certeza da resposta. Não hesite. Se bateu a mínima dúvida, pule.
  • 6) Agora, volte às questões que você pulou. Para cada uma, aplique sua estratégia de risco (classifique cada resposta em três categorias: C (Certeza Absoluta – Eu sei a resposta e a justificativa); D (Dúvida Forte – Estou inclinado para uma resposta, mas não tenho 100% de certeza); N (Não Sei Mesmo – Não tenho a menor ideia, seria um chute cego). Sua intuição é boa? A dúvida é pequena? Então talvez valha a pena marcar. A dúvida é 50/50? O “branco” é a jogada mais segura.


  • Perfil das Questões:
  • Inteligentes e Contextualizadas: As questões raramente são um simples “decoreba”. Elas apresentam situações problema, trechos de jurisprudência (decisões de tribunais superiores) e trechos de doutrina para serem analisados.
  • Interdisciplinaridade: É comum uma única questão misturar conhecimentos de diferentes matérias. Por exemplo, uma questão de Direito Administrativo pode exigir um raciocínio de Direito Constitucional.
  • Textos de Apoio Essenciais: Os enunciados costumam ser longos e os textos de apoio não estão ali de enfeite. A resposta muitas vezes depende da correta interpretação do que foi apresentado.
  • Foco em Jurisprudência: Para cargos da área jurídica, é a banca que mais exige conhecimento atualizado das decisões do STF e STJ.
  • Em Resumo: A Cespe/Cebraspe não mede apenas o que você memorizou, mas sua capacidade de raciocinar, interpretar e, acima de tudo, sua estratégia na hora de decidir quais questões responder e quais deixar em branco. É uma banca que exige um candidato completo. Use, principalmente, a técnica do Estudo Reverso para resolver muitas questões e dominar o método da Cebraspe.  Cebraspe | O melhor em avaliações e seleções de pessoas

2. O Perfil da Fundação Getulio Vargas (FGV): A Intelectual Desafiadora

A FGV é amplamente considerada a banca mais “inteligente” e, para muitos, a mais difícil. 

Como são as provas da FGV? Suas provas são verdadeiros desafios de raciocínio e interpretação, elaboradas para selecionar candidatos que realmente pensam e não apenas decoram.

  • Estilo Principal: Múltipla escolha (A, B, C, D, E).
  • Perfil das Questões:
  • Enunciados Longos e Complexos: As questões da FGV são famosas por seus textos longos e contextualizados, que contam uma “historinha” para testar sua capacidade de extrair a informação essencial.
  • Raciocínio Lógico Acima de Tudo: Mais do que a memorização pura, a FGV testa sua lógica e sua capacidade de interpretação. Muitas vezes, a resposta correta não é a mais óbvia e está escondida em uma sutileza do enunciado.
  • Língua Portuguesa como “Divisor de Águas”: A prova de Português da FGV é um capítulo à parte. É extremamente desafiadora, focada em interpretação, semântica, reescrita de frases e análise de textos complexos. Um bom desempenho aqui é crucial para a aprovação.
  • Imprevisibilidade: Embora cobre todo o edital, a FGV é conhecida por inovar na forma de perguntar, o que a torna menos previsível que as outras.
  • Como Estudar Português para a Banca FGV sem Enlouquecer?

Parte 1: O Que NÃO Fazer (Os Erros que te Eliminam)

Antes de aprender o caminho certo, vamos eliminar os errados. A maioria dos candidatos reprova por insistir em três erros fatais:

  1. Estudar apenas por gramática tradicional: Passar meses decorando as regras de crase e orações subordinadas não vai te ajudar aqui. A FGV raramente pergunta a classificação de um termo; ela pergunta o efeito de sentido que aquele termo causa no texto.
  2. Ler o texto com pressa: Em outras bancas, o texto é um pretexto. Na FGV, o texto é o protagonista. É nele que estão as ambiguidades, as ironias e as intenções do autor que serão cobradas.
  3. Subestimar a reescrita de frases: As famosas questões de “reescrita” são mini provas completas. Elas testam, em uma única questão, seu conhecimento de coesão, coerência, pontuação e semântica. É a parte mais técnica e que mais derruba candidatos.

Parte 2: O Método de Preparação (O Caminho das Pedras)

Agora que você sabe o que evitar, siga este método de 4 passos para construir uma base sólida.

Passo 1: Engenharia Reversa Massiva (O Mais Importante) A única forma de entender a “mente” do examinador da FGV é resolvendo centenas de questões de provas anteriores. Mas não apenas resolva, disseque cada uma delas:

  • Após resolver, leia os comentários de professores.
  • Pergunte-se: “Por que a alternativa A está errada? Qual a falha lógica nela?”.
  • Observe os padrões: “Notei que a FGV adora usar a palavra ‘apenas’ para invalidar uma alternativa.”
  • Sua meta não é gabaritar, mas sim entender o padrão de raciocínio da banca.

Passo 2: Foque no Essencial (Os 3 Pilares da FGV) Seu estudo teórico deve ser focado nestas três grandes áreas:

  1. Interpretação e Tipologia Textual: É a base de tudo. Estude os conceitos de intenção do autor, ironia, tese principal vs. argumentos secundários, e os diferentes tipos de texto (argumentativo, narrativo, descritivo).
  2. Semântica e Vocabulário: É o estudo do sentido das palavras. Foque em sinonímia, antonímia, polissemia (uma palavra com vários sentidos) e, principalmente, denotação (sentido do dicionário) vs. conotação (sentido figurado).
  • Dica de Ouro: Crie um “caderno de vocabulário” com as palavras e expressões mais complexas que você encontrar nas provas da FGV.
  1. Coesão e Coerência (A Base da Reescrita): É o estudo dos mecanismos que “ligam” o texto. Domine o uso de pronomes, conjunções (as campeãs de cobrança!), preposições e o valor semântico da pontuação (uma vírgula pode mudar todo o sentido).

Passo 3: Leia Mais e Melhor A FGV usa textos de alta qualidade. Acostume seu cérebro com esse nível de leitura. Leia artigos de opinião de grandes jornais (Folha de S.Paulo, Estadão), crônicas de bons autores (como Luis Fernando Verissimo) e editoriais. Isso vai aumentar seu vocabulário e sua capacidade de interpretação.

Passo 4: Escolha o Material Certo Procure por cursos e professores que sejam especialistas em FGV. Dê preferência a materiais que foquem na resolução de provas em vídeo, onde o professor mostra o passo a passo do raciocínio para chegar à resposta.

Parte 3: A Estratégia no Dia da Prova (O Confronto Final)

  1. Leia o Enunciado PRIMEIRO: Antes de mergulhar no texto, leia o que a questão está pedindo. Muitas vezes, ela se refere a uma linha específica ou a uma única palavra, poupando seu tempo.
  2. Torne-se um Advogado do Diabo: Ao analisar as alternativas, sua missão é encontrar o erro em cada uma delas. A que sobrar, mesmo que pareça estranha, provavelmente é a correta.
  3. A Resposta ESTÁ no Texto: Cuidado com as alternativas que são logicamente corretas, mas que extrapolam o que o autor disse. A FGV é mestre nisso. Se a informação não pode ser comprovada ou inferida diretamente do texto, ela está errada.

Conclusão: Troque a Decoração pela Investigação

Encarar a prova de Português da FGV não é sobre saber mais regras, é sobre pensar melhor. Pare de decorar e comece a investigar os textos. Resolva provas como se sua vida dependesse disso (e, no mundo dos concursos, depende!).

Não é uma prova para gênios, é uma prova para estrategistas. Com o método certo, você não apenas sobrevive ao Português da FGV, você o domina.

  • Em Resumo: A FGV elabora uma prova para cansar o candidato. Ela exige resistência, atenção aos detalhes e, principalmente, uma altíssima capacidade de interpretação. Passar em um concurso da FGV é um atestado de que o candidato sabe raciocinar sob pressão. E para manter a concentração durante as longas provas da FGV, é fundamental dominar a Técnica Pomodoro.  Concursos | FGV Conhecimento

3. O Perfil da FCC (Fundação Carlos Chagas): A Tradicionalista (em evolução)

A FCC construiu sua fama por ser a banca da “letra da lei”. Por muito tempo, suas provas exigiam, majoritariamente, a memorização do texto seco da legislação. Embora essa ainda seja uma característica forte, a banca tem evoluído e apresentado questões mais complexas.

  • Estilo Principal: Múltipla escolha (A, B, C, D, E).
  • Perfil das Questões:
  • Foco na “Letra da Lei”: A principal característica, especialmente em provas de Direito, ainda é a cobrança literal de artigos de leis, da Constituição e de códigos. Pequenas palavras no enunciado (“exceto”, “apenas”, “sempre”) podem mudar todo o sentido da questão.
  • Enunciados Cansativos e Textualizados: O enunciado e as alternativas questões são, geralmente, maiores que os de outras bancas, e uma palavra pode mudar todo o sentido. Requer atenção e foco o tempo todo. Uma pausa durante a prova é crucial para respirar, oxigenar o cérebro e voltar com o foco total.
  • Evolução Recente: Em concursos de nível superior e para carreiras jurídicas, a FCC tem aumentado o nível, cobrando mais jurisprudência e apresentando pequenos casos práticos.
  • Prova Discursiva como Diferencial: Na nota final, a FCC aplica uma fórmula que a prova discursiva se torna essencial para conseguir os primeiros lugares. Os estudos de casos costumam ser práticos e cheios de “casca de banana”. A FCC testa quem sabe aplicar os conceitos nas “possíveis rotinas do dia a dia de trabalho”.
  • Em Resumo:
  • Como é o Perfil da Banca Fundação Carlos Chagas?  
  • A FCC ainda é a banca que mais recompensa o candidato que tem a legislação memorizada na ponta da língua. A atenção aos detalhes e a leitura atenta da lei seca são os maiores segredos para um bom desempenho, mas é preciso estar atento à sua evolução, principalmente em concursos de maior complexidade. A técnica primordial para encarar a banca FCC é estudar por Flashcards e dominar o máximo de conceitos.  Concursos Públicos